No mesmo dia em que foi divulgado o áudio de um tenente-coronel da Funai dizendo que atiraria contra indígenas isolados, a deputada federal Bia Kicis foi às redes sociais para saudar uma nazista alemã que defendeu que os refugiados fossem assassinados com tiros. A nazista — me refiro à alemã — disse textualmente durante a crise dos refugiados em 2015: “É nosso dever nos defendermos com armas. Atiraremos inclusive em mulheres e crianças”. Para Bia Kicis, a foto com a nova parceira nazista representa a consolidação de uma aliança: “conservadores do mundo se unindo para defender valores cristãos e a família.”
Beatrix Von Storch é vice-presidente do partido nazista alemão Alternative für Deustschland (Alternativa para a Alemanha) e neta de um ministro de finanças de Hitler. Em 2018, ela criticou a “islamização do país” e afirmou que “O reinado desse islã na Alemanha não é nada mais que o reinado do mal”. Estima-se que há 4 milhões de muçulmanos vivendo na Alemanha. Se antes os nazistas alemães combatiam os judeus, hoje os inimigos a serem destruídos são os muçulmanos.
Eduardo Bolsonaro também postou foto com a alemã e ressaltou as semelhanças do bolsonarismo com o nazismo: “Somos unidos pelos ideais de defesa da família, proteção das fronteiras e cultura nacional” — basicamente, o tripé ideológico que sustenta o nazismo no mundo.
As semelhanças entre nazismo e bolsonarismo não são poucas nem recentes. O alinhamento ideológico sempre foi claro. Lembremos que até mesmo um líder dos supremacistas brancos da Ku Klux Klan, David Duke, elogiou Bolsonaro e atestou as afinidades: “ele [Bolsonaro] soa como nós. Ele é totalmente um descendente europeu. Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como, por exemplo, nos bairros negros do Rio de Janeiro”.
Uma série de episódios protagonizados por integrantes o governo Bolsonaro confirma esse alinhamento: o discurso que o ex-secretário de Cultura Roberto Alvim fez copiando frases do ministro nazista Joseph Goebbels; o gesto supremacista de Filipe Martins; o copo de leite que Bolsonaro tomou em um de suas lives em referência aos neonazistas americanos.
Bolsonaro já atraía a admiração dos nazistas quando era deputado. Como esquecer da manifestação convocada por nazistas paulistas em 2011 em defesa das declarações racistas e homofóbicas do então deputado Jair Bolsonaro? Ou da carta enviada por ele que foi apreendida pela polícia na casa de um neonazista mineiro? A confraternização entre parlamentares bolsonaristas e os nazistas alemães apenas formalizou essa aliança no campo institucional.
Mas voltemos a falar de Bia Kicis. Ela e sua amiga nazista compartilham da mesma opinião sobre os gays. A alemã também é uma ferrenha opositora do casamento gay, diz que “homofobia é um termo indefinido” e se refere à população LGBTQIA+ como uma “minoria barulhenta”. Para a AfD, o partido nazista comandado por Beatrix, as escolas alemãs “enfatizam unilateralmente homossexuais, transexuais e bissexuais”. Qualquer semelhança com a obsessão sobre o famoso delírio da “ideologia de gênero” no Brasil não é mera coincidência.
O trabalho de Bia Kicis à frente da presidência da comissão mais importante da Câmara, a de Constituição, Justiça e Cidadania, a CCJ, deve estar fazendo Adolf Hitler sorrir no inferno. Kicis atuou intensamente pela aprovação do PL 490, o projeto de lei que reduz os direitos dos povos indígenas sobre as terras demarcadas. Entre as alterações, a mais absurda é aquela que estabelece um marco temporal para a validade da demarcação das terras: só poderão ser consideradas terras indígenas aquelas que já estavam em posse dos povos indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.
O projeto também facilita o contato com povos isolados, proíbe que se amplie terras que já foram demarcadas e permite que garimpeiros explorem livremente os territórios indígenas. Na prática, o projeto pode impulsionar ainda mais o já existente massacre dos povos indígenas por garimpeiros, que serão empoderados pela nova lei. Caso seja aprovada no plenário da Câmara, a lei permitirá que o governo construa rodovias e hidrelétricas nos territórios indígenas, sem precisar consultar as etnias dessas regiões. O bolsonarismo encara os povos indígenas como seus parceiros nazistas na Alemanha encaram os refugiados.
Bia Kicis fez de tudo para cercear as vozes indígenas durante o debate em torno do PL. A presidente, que se recusa a usar máscara durante os debates, interrompeu a palavra da deputada Joênia Wapichana, da Rede de Roraima, em vários momentos. A deputada é a primeira mulher indígena eleita no país e pleiteava a realização de uma audiência pública para que as comunidades tradicionais fossem ouvidas sobre o projeto de lei. Bia Kicis não só interrompeu Joênia como cortou sua palavra durante o debate. A Bia alemã deve ter ficado orgulhosa.
Nem mesmo uma carta enviada por nove empresas de varejo e produção de alimentos da Europa ameaçando boicotar comercialmente o Brasil fez Bia Kicis mudar de ideia. A carta dizia que se as novas medidas que prejudicam as proteções existentes ao meio ambiente forem aprovadas, as empresas “não terão escolha a não ser reconsiderar o uso da cadeia de suprimentos de commodities agrícolas brasileiras.” O desrespeito ao meio ambiente no Brasil é um tema sensível, que tem intensificado o processo de transformação do país em pária internacional. O bolsonarismo não quer nem saber. Como já disse o ex-chanceler Ernesto Araújo, “que sejamos pária!”.
Comparar o bolsonarismo com o nazismo não é uma forçação de barra. É a constatação de um fato. As duas correntes têm tendências sexistas, racistas, islamofóbicas e xenófobas. Há muito mais semelhanças do que diferenças. Pode-se dizer que o bolsonarismo é um subproduto do nazismo no Brasil ou uma versão adaptada dele. Hoje, os bolsonaristas perderam completamente a vergonha e agora festejam abertamente as semelhanças com o nazismo.
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Fonte: https://theintercept.com/2021/07/25/bia-kicis-flerte-nazismo-lider-maior-ataque-indigenas/
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